28 de agosto de 2011

Adeus


            Você já, alguma vez, se sentiu um estranho em sua própria família? Como se você não fizesse parte do conjunto. É assim que me sinto a algum tempo. E hoje, noite de natal, isto só se fez acentuar. Não que alguém o tenha dito a mim, jamais, os Ferraz sempre foram extremamente educados, educados demais para me dizerem que minha presença ali não era necessária. Porém, desde que Amanda chegou, percebi que eu me tornaria obsoleto, com seus beijos e eu-te-amo’s, é o preço que se paga por ser imortal, ver todos seus entes queridos irem e ficar. Enterrar um a um deles. Mas logo isto já não seria problema, em apenas alguns minutos.

            Minha ultima taça de vinho. A mesma taça e o mesmo conteúdo da primeira. Uma taça de cristal, francês e o vinho, um Château Lafite Rothschild 1787, guardado para uma ocasião especial, neste caso, a ultima. Apressei-me em apreciar aquele vinho, pois da escada vinham passos. Alguém atrás de mim? Talvez. Ou mais provável, alguém querendo um pouco mais de privacidade. Agora, já tanto fazia, pois eu já me entregará ao gélido ar da noite.

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