21 de novembro de 2012

Saudade e Vontade


 Saudade e Vontade

Às vezes a saudade vaza dos olhos. Grosa ou fina, cedo ou tarde, sempre vaza. Saudades do Preto e do Amarelo. De cada um dos meus castelos imaginários, saudades dos meus tempos de estrela, de mamãe e do papai. Saudades dos mortos, e também de tudo em mim que já morreu.

Sinto saudades de minhas asas, de voar com elas por sobre a vida e sobre a morte, saudades de Oscar, Vera, Cecília, Lúcia e Quico, saudades do que vivi e do que vi viverem, saudades de Val vendendo pó na esquina, por que não? Saudades até mesmo do Príncipe branco.

E a saudade não se acaba, mas para de escorrer. Volta-se para dentro. Passa a ser saudade do Roxo e do Vermelho, das masmorras de meus próprios castelos, saudades da morte e das vidas que não vivi. De ser mãe, de ser avó e de ter uma família. Saudade do amor.

Saudades dos dragões, cuspidores de liberdade. Saudades de ser humana e de sentir. Saudades dos que ainda verei viver e de Val vendendo pó na eqüina, por que não? Saudades até mesmo do príncipe branco. Por que a diferença entre a saudade que vaza e a que fica é a mesma da saudade e da vontade.

É o tempo. Mas o tempo não existe. Nunca existiu. Nunca existirá. Assim como eu, e como você e como este conto. Só o que existe é a saudade que escorre e a que fica. Só saudade e vontade.

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