5 de dezembro de 2012

Perfume e Espinhos

Vale do abandono, 30 de fevereiro de 2012

Amor, meu grande amor.

        Acordei esta manhã sentindo tua falta, minha rosa, assim como em todas as outras. Acordei em nossa cama, ainda com seu perfume em minhas narinas. Teu perfume, outrora tão doce, agora tão azedo, qual nosso amor.
        Ainda durmo sob os mesmos edredons e sobre os mesmos lençóis que costumávamos ficar acordados, ainda levanto com o despertador cansado de tocar e ainda como torradas no café da manhã, com a mesma geléia que costumava lambuzar teu rosto macio...
        Mas ainda que em minha vida reste um pouco de seu perfume sinto falta dos teus espinhos, dos teus defeitos pequeninos.  Do teu bafo matinal, com sabor de cachorro quente com pimenta e de tuas broncas por calar tuas broncas com minha boca tão sedenta...
        Sinto falta de teu amor por completo. De sentir teu perfume doce, quase enjoativo sem rastro do modo azedo como ficou em nossa casa e sinto falta de teus espinhos, arranhando minha pele de forma mansa, de minha pele sendo curada pelo teu perfume indecente...
        Mais que sinto falta, eu preciso de você. De teus doces espinhos. De teu nocivo perfume.  E é sobre minha abstinência de você que escrevo nessa carta por que, agora, é o que me resta. Minhas cartas são o que reavivam o que já não existe. Meus desejos me fazem, ainda que longe, me sentir perto de você e além das minhas cartas e meus desejos me restam apenas as migalhas de teu perfume.
         As migalhas de teu perfume que jamais poderão curar a dor que me causa por não mais me machucar...

Espero que eu possa me despedir
apenas com um até breve,
 teu Jardineiro. [/teal]</div>

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