9 de janeiro de 2013

Sobre bolos e migalhas


Sobre bolos e migalhas

        Essa é mais um conto da garota infeliz apelidada de cinza por este que vos escreve. Só cinza agora. Era oficialmente uma adulta, havia completado 18 anos, e dera uma bela festa. Ela roubou um bolo do padeiro gordo na esquina, e fez das migalhas de pão que costumava dar aos pombos – Só os cinzas, nem pretos, nem marrons, nem brancos. Os cinzas -.

       Convidou todos os amigos que conhecerá ao longo de dois anos na cidade grande. O Primeiro atendia pelo nome de Peter. O conheceu em um sebo, enquanto procurava um livro para roubar, uma vez que nem só de pão se alimenta a solidão, meus caros.

       Abriu um exemplar de “O morro dos ventos uivantes”, e lá estava ele, em formato de dedicatória. Nunca leu o livro, mas a dedicatória relia todas as noites, feita uma oração, na esperança de um dia acreditar que era para ela, e não para a moça apelidada “Deusa” por seu amigo, e apenas amigo, Peter.

      Iracema também estava presente. Conheceu a menina num recorte de jornal. Morta aos quinze, em um beco, não comi a dias. A fotografia era toda cinza. Era, aos olhos da menina, uma amiga madura e vivida. La não falava muito da garota, mas ela parecia o tipo que alimentaria aos amigos antes de si mesmo. Era o mais próximo de um deus, ou santo, que a Cinza tinha para rezar.

      Entre porta-retratos, fotos 3x4, e até mesmo roupas, para outros amigos sem nome, ela devorava o bolo e as migalhas. Eu fui o ultimo a chegar, e nem entrei na festa. Só observei aquela garota, festejar sua solidão em meio a fuligem. Fui covarde, eu sei. Mas prometi não mais ser. Nunca mais.

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